sábado, 11 de agosto de 2012

O que o cliente espera do Transporte Coletivo?



Há anos me pergunto quais seriam os principais anseios dos usuários de ônibus. Deixei o enfoque técnico de lado, já que quase todos eles são leigos e desconhecem a complexidade e o leque de configurações de um ônibus, tanto quanto sua aplicação correta segundo a descrição do fabricante . Em um primeiro momento, confesso, desconsiderei grande parte das manifestações sobre o assunto advindas dos usuários, uma vez que em grande parte das vezes que incitei a manifestação recebi devaneios utópicos como resposta. Estes variaram, e muito. Começou no anseio por ônibus com ar condicionado (o que não necessariamente é utópico, dependendo da aplicação), e terminou em  ônibus rodoviários de dois pisos fazendo linhas urbanas. Alguns meses de reflexão me fizeram concluir que grande parte desses ditos, em um primeiro momento, devaneios, poderiam ter sua essência extraída, tornando possível encontrar as raízes dos diversos problemas que fazem com que os passageiros se sintam frustrados ao embarcarem em um coletivo.  Abaixo descreverei algumas dessas raízes que se ausentes, matam a árvore do sistema.

Higiene:

É esdrúxulo, sei bem, mas é algo que realmente está a faltar em pelo menos  50% da frota de ônibus joinvilense. Ontem mesmo tive a certeza que um ônibus permanece sujo por mais de uma semana (futuramente farei o mesmo teste, só que registrarei todos os passos).  Basicamente o que toma conta do interior dos coletivos é a poeira, a graxa, a gordura (nos vidros), o mau cheiro e o ar profundamente contaminado por agentes que causam diversas alergias em pessoas com problemas respiratórios (sou uma dessas).  A aparência externa no veículo também fica comprometida, com graxa a escorrer pelos aros em direção aos pneus (o que nitidamente é um risco a segurança do veículo), resquícios de lama e até mato a nascer no pára-lama de alguns veículos. Podemos dizer que e a higiene é algo tão básico, que sua ausência jamais será tolerada.  


Conforto:

Você já deve ter se perguntado o porquê de alguns ônibus trepidarem e sacolejarem mesmo no asfalto novo. A resposta está sob a carroceria, mais precisamente em seu sistema de suspensão. Sistema esse que se mostra nitidamente arcaico, dando margem para se equiparar o ônibus a um caminhão, por conta do desconforto (o tipo de suspensão que gera esse desconforto é item de série nos ônibus com motor posicionado na dianteira. Chama-se suspensão semi-elíptica).  Outra grande geradora de desconforto é a poltrona, que se adotada uma configuração ruim (há um leque grande de modelos e tipos para a escolha dos compradores), aumentará e muito o contato direto do corpo do passageiro sentado com a violência dos movimentos desse tipo de suspensão.


Além do desconforto, podemos notar a ausência de limpeza na caixa de porta. 


Manutenção em dia:

É algo que muitas vezes se manifesta indiretamente, além de poder ser considerada como algo que gera desconforto. Uma porta que emperra com freqüência, mas continua a funcionar, um botão de “Parada Solicitada” estragado, ou mesmo toda a rede responsável por sonorizar as solicitações de parada em pane. Um banco solto, um balaústre lascado, uma janela emperrada, um elevador solto, partes do veículo que geram ruídos além do normal (podemos incluir aí o motor). Geralmente o carro só é parado para manutenção, quando realmente algo para de funcionar por completo, sendo fatal para o pleno funcionamento do veículo. Problemas que não se encaixam nos parâmetros descritos acima, geralmente são ignorados.


Situação comum facilmente registrada nos ônibus. Também é muito comum registrar infiltrações nas saídas de ar, comprometendo toda a estrutura do forro que é de madeira. 


Coerência e falta de profissionalismo:

A foto abaixo se isenta boa parte das explicações.  A situação é mais comum do que se pensa. Atualmente o nosso Transporte Coletivo tem sofrido com a chuva da incoerência, gerada por atos nada profissionais de funcionários e gestores responsáveis pela  frota de ônibus da cidade.  Maus tratos aos passageiros e  também a falta de conhecimento para formar a escala dos veículos para as linhas são dois exemplos. Outra situação que ocorre muito é a falta de comprometimento do motorista para com seu horário e itinerário. Já é sabido que estes descobriram meios de burlar o sistema, deixando de cumprir, por exemplo, todo o itinerário da linha quando convém a ele, além de manipular os horários de saída e chegada do carro (um exemplo claro é o que acontece comigo todos os dias no período noturno: O horário de saída do ônibus está registrado como 22h30, mas o motorista sai da estação com o carro entre 5 e 3 minutos antes do que deveria. Somente durante o trajeto, quando de fato são 22h30, ele registra no “teclado” multifuncional a saída do carro da estação).


Auto explica-se. 



Pontualidade e eficiência:

Com o atual trânsito da cidade, é algo complicado de se exigir. Mas existem meios de evitar que o passageiro espere na plataforma de embarque por um ônibus que não virá por conta do trânsito congestionado ou algo que não possa ser previsto. Carros reserva existem exatamente  para solucionar problemas desse tipo. Geralmente não são usados.


Estrutura:

Essa raiz atinge também o poder municipal, pois ele é o grande responsável pela estrutura do sistema de transporte da cidade. Aliás, ele é responsável por fiscalizar e exigir o cumprimento de todas as raízes dispostas acima. Outra maneira de se contribuir para uma boa estrutura, surge na  hora de renovar a frota de ônibus da cidade. Deve-se respeitar a real necessidade de determinadas linhas, e a aplicação dos veículos segundo a descrição do fabricante. Imaginem um ônibus pequeno operando na 0300 Itaum, em horário de pico, com mais de 300 passageiros na plataforma. Ônibus esse que tem capacidade para cerca de 70 pessoas (respeitando o limite de lotação que está descrito em uma plaqueta acima do posto do motorista). Bem, essa situação de imaginária não tem nada. A prática é comum. E não adianta a empresa dona do ônibus comprar o mesmo carro, com mesmo motor e chassi, e solicitar alongamento da estrutura, tornando o carro maior, aumentando e muito sua capacidade de carga. O ônibus continua com os mesmos limites de aplicação, trazendo ainda mais desconforto para quem o usa, por conta de seu tamanho desproporcional a seu projeto. 

Filtrado o que antes parecia um desejo utópico, pode se perceber que o cliente só quer o básico, o mínimo, aquilo que se aplicado o dará a certeza de que um dos preceitos mais fundamentais, o da dignidade da pessoa humana, estará sendo respeitado. São "brocardos" que deveriam estar presentes em nosso transporte coletivo, mas que têm suas aplicações gravemente falhas, tornando o sistema insatisfatório, além de prejudicar diretamente sua eficiência. Existem muitos outros problemas sérios, a maioria é causada pelo quid pro quo que se tornou o transporte urbano joinvilense, antes tão organizado, seguindo a risca um padrão de qualidade que hoje não dá sinais de existência. 

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