sábado, 25 de agosto de 2012

Ônibus em foco: Conforto é a chave?


O cenário atual do transporte urbano nas médias e grandes cidades brasileiras, assim como de países emergentes mundo afora, é de caos e congestionamentos. As facilidades de crédito e financiamento, bem como o aumento da renda gerado pelo crescimento econômico, favorecem ainda mais o transporte individual, que no passado era símbolo de status e privilégio de poucos e hoje é o grande culpado por problemas de mobilidade urbana e poluição ambiental. Mais do que nunca o transporte coletivo é tido como única solução para tais, e prioridade dos governos.

Entre os vários modais de transporte coletivo urbano, o ônibus é o mais popular do mundo. E no Brasil, país onde tudo é caro, não poderia ser diferente, devido a seu baixo custo de operação e aquisição, bem como versatilidade de trabalho e configuração. O Brasil é o segundo maior produtor de ônibus no mundo, e também o pioneiro na modalidade chamada de BRT, sigla para Bus Rapid Transit (Trânsito rápido de ônibus). O metrô de superfície, como também é chamado, é a grande aposta de várias cidades no mundo. Rapidez, eficiência, comodidade, alta capacidade, baixo custo de investimentos e tempo de implantação, são qualidades e vantagens que estão conquistando técnicos em planejamento, gestores, políticos e a população, tirando a visão negativa que se tinha do ônibus.

Para qualquer sistema implantado ter sucesso, é preciso que o poder público tome a iniciativa de fazer um planejamento minucioso que atenda as necessidades de deslocamento e demanda com máxima eficiência e conforto. Isso é vital não apenas para a saúde do sistema, como também para a mudança de hábitos de uma população, cuja difícil tarefa é a troca da comodidade do veículo particular pelo serviço público. São duas as táticas aplicadas pelos governos para forçar esta mudança. A primeira é tornar o automóvel desvantajoso, restringindo a circulação de veículos de passeio, como estacionamentos rotativos, “calçadões”, rodízio, etc. A segunda é tornar o sistema de coletivos atrativo, como subsidiar a tarifa, disponibilizar boa oferta de veículos em todos os horários, e principalmente o conforto dos mesmos.

Indo na contramão da evolução, o Brasil onde tudo é caro, é também desigual. Têm-se BRT em poucas cidades, e na maioria há sistemas arcaicos e ineficientes, tarifas altas, superlotação, ociosidade com sobreposição de rotas, frutos do mau planejamento, e principalmente do favorecimento a interesses privados de operadores em detrimento da população. Conforto é algo que passa bem longe do ônibus, na maioria das cidades brasileiras.

O nível básico de conforto que são submetidos passageiros e condutores é uma discussão antiga, que data dos anos 60 na Europa e fins de 70 no Brasil. A substituição de carrocerias montadas sobre chassis de caminhões por veículos próprios para transporte de pessoas que se deu no velho mundo e América do Norte, foi também aqui proposta pelo governo federal, mas o destino foi diferente. A EBTU (Empresa Brasileira de Transportes Urbanos) através do GEIPOT (Grupo Executivo para Integração de Políticas de Transporte) realizou pesquisas com objetivo de criar normas e especificações para melhorar e padronizar a frota nacional; o resultado foi projeto do ônibus Padron, cujas especificações abrangem vários itens de conforto e segurança, que a grande maioria dos ônibus até hoje não possuem.

Atualmente, adquirir um ônibus é como um automóvel particular e até mais flexível. As opções de chassis, carrocerias, dimensões, portas, bancos, acabamento, piso, etc. são incontáveis. Desse modo, é conveniente para a empresa operadora utilizar veículos do mais simples possível para transportar uma mesma quantidade de pessoas a fim de obter maior lucro. Infelizmente o transporte coletivo é gerido como negócio privado e não serviço público na maior parte do país. Desinteresse por parte do poder público e corrupção resultou em concessões e permissões que dão direito e exclusividade a empresários “deitarem e rolarem” com tarifas altas e serviços de baixa qualidade. Se o transporte coletivo é a solução para o caos urbano, conforto é primordial para o sucesso. Caso contrário o ônibus continuará sendo mal visto, o transito entrará em colapso, e a poluição trará suas conseqüências.                                                                                                                                                                           

Na próxima postagem falarei a respeito de ônibus confortáveis e seguros, do projeto Padron, comparações com nossos ônibus atuais, o atraso tecnológico e suas desvantagens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário